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30 de nov. de 2024
Carne cultivada em laboratório: A revolução no prato do futuro Photo by:
A carne cultivada em laboratório, também conhecida como carne in vitro ou carne de cultura celular, é produzida a partir do cultivo de células musculares animais em um ambiente controlado, sem a necessidade de abater animais. O processo começa com a coleta de células-tronco de um animal vivo, que são então cultivadas em biorreatores. Esses biorreatores simulam o ambiente natural do corpo do animal, fornecendo nutrientes essenciais e condições ideais para o crescimento e a multiplicação das células, que eventualmente formam tecido muscular.
Para que o produto seja bem-sucedido no mercado, ele precisa ser seguro, produzido em grande escala e vendido a um preço acessível. E para isso, algumas técnicas estão sendo estudadas para solucionar essas questões. Segundo a página de notícias da Maastricht University, as técnicas anteriores ainda enfrentavam dificuldades no cumprimento destes critérios devido a dois grandes problemas técnicos. A primeira é que as células estaminais ainda dependem de componentes de origem animal no seu meio de cultura, também conhecido como “alimentação celular”, e a segunda é a perda de caule. Um processo complexo no qual as células envelhecidas são incapazes de formar tecido muscular”.
Como é produzida?
⦁ Coleta de células: Pequenas amostras de células musculares são extraídas de um animal vivo através de uma biópsia.
⦁ Cultivo de células: As células são colocadas em um biorreator com uma mistura de nutrientes, como aminoácidos, glicose, vitaminas e minerais, que promovem seu crescimento.
⦁ Diferenciação e formação de tecido: As células-tronco se diferenciam em células musculares e começam a formar fibras musculares, um processo que pode ser acelerado por estímulos mecânicos e elétricos.
⦁ Colheita e processamento: Após o desenvolvimento adequado, o tecido muscular é colhido e processado em produtos finais, como hambúrgueres ou filés.
A ausência de transparência das startups sobre a origem do material genético, a composição dos meios de cultivo, a velocidade de reprodução das células, o volume produzido e a repetibilidade do método e dos resultados são questões intencionalmente não expostas em detalhes. Isso ocorre porque o setor está se desenvolvendo no âmbito da iniciativa privada, onde cada pequeno avanço é protegido como segredo industrial.
⦁ Sustentabilidade: A produção de carne cultivada requer significativamente menos recursos naturais, como água e terra, e emite menos gases de efeito estufa em comparação com a pecuária tradicional.
⦁ Bem-estar animal: Este método elimina a necessidade de criação e abate de animais, reduzindo o sofrimento animal e as preocupações éticas associadas à pecuária convencional.
⦁ Segurança alimentar: A produção em ambiente controlado diminui o risco de contaminação por patógenos e pode reduzir a dependência de antibióticos.
⦁ Custo de produção: Atualmente, o custo para produzir carne cultivada é elevado, mas tem diminuído à medida que a tecnologia avança e a produção se escala.
⦁ Aceitação do consumidor: Há uma barreira significativa em relação à aceitação do público, que pode estar relutante em consumir carne cultivada em laboratório.
⦁ Regulamentação e aprovação: A regulamentação e aprovação por autoridades de segurança alimentar ainda estão em desenvolvimento em muitos países, o que pode retardar a comercialização.
Empresas ao redor do mundo estão investindo bastante em pesquisas e desenvolvimento para tornar a carne cultivada uma opção viável e acessível. Países como Singapura, em 2020, foi o primeiro país a autorizar e regulamentar a venda de carne cultivada através da empresa Eat Just que comercializa carne de frango em formato de iscas. Os Estados Unidos, em 2023, também aprovaram a venda de carne cultivada, através da empresa Upside Foods, comercializando a carne cultivada de frango em filé.
Carne de frango cultivada pronta para consumo. Fonte: Upside Foods.
O The Good Food Institute (GFI) é uma ONG americana que direciona fundos filantrópicos para pesquisas em proteínas alternativas. Entre 2019 e 2023, o GFI financiou 102 projetos científicos em 17 países, sendo 53 focados em carne cultivada, 39 em proteínas vegetais e 10 em fermentação. Segundo o levantamento de 2023, existem 156 startups no mundo que têm a carne cultivada como produto final, todas buscando formas de escalonar a produção. Se esses desafios forem superados, a carne cultivada tem o potencial de transformar a indústria alimentícia, oferecendo uma alternativa sustentável e ética à carne convencional.
No Brasil, foram investidos US$ 2,5 milhões em 31 projetos, envolvendo 14 instituições de pesquisa e 2 startups. Desse total, quatro projetos são focados em carne cultivada, 25 em proteínas vegetais e dois em fermentação. No país, existem 17 grupos de pesquisa dedicados ao desenvolvimento de carne cultivada, dos quais cinco receberam apoio do GFI.
A carne cultivada em laboratório representa uma promissora evolução na produção de alimentos, que pode ajudar a atender à crescente demanda global por proteína, ao mesmo tempo que aborda questões críticas de sustentabilidade e bem-estar animal. À medida que continuamos a avançar nessa direção, poderemos estar testemunhando o início de uma nova era na maneira como produzimos e consumimos carne. No entanto, ainda é incerto quanto tempo levará para que a carne cultivada, seja produzida em grandes quantidades e vendida nos supermercados.